domingo, 5 de fevereiro de 2017

Carta de Eugênio Aragão à Lula

Acordei atormentado hoje, Lula. Como se não bastasse a tensão destes tempos, com o passamento de Teori Zavascki e as tenebrosas transações que lhe seguiram, no esforço de blindar uma ninhada de ratos esbulhadores do poder, desperto sob a angústia do momento dramático que assombra sua família. Para me manter firme, ligo o som de meu carro ao levar os meninos para a escola, ouvindo “Mais uma vez” do saudoso Renato Russo

Mas é claro que o sol vai voltar amanhã 
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem…
Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja a nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar 
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!
Mas é claro que o sol vai voltar amanhã 
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem
Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!

Pois é, Lula. Com seu enorme coração, no meio de implacável perseguição que promovem a si e a seus entes queridos, pessoas sem um milésimo de sua dignidade, você é submetido a esse agudo padecimento pela situação extrema de sua companheira e esposa, Marisa Letícia, com quem tem vivido por mais de trinta anos. Só gente grande, como você, para suportar tamanha provação com a conformação que lhe é própria.

Conformar-se, diferentemente do que muitos pensam, não é pendurar as chuteiras, não é entregar-se, não é jogar a toalha. É ter capacidade de assumir, na alma, a forma das circunstâncias, para a elas se adaptar. Para melhor lidar com desafios inevitáveis. Por isso, “com-formar“. É atitude de sabedoria, de fazer-se senhor do destino e não se abater por ele.

Lula, você tem estoicamente aguentado desaforos, insultos, injustiças, manobras vis, falta de humanidade de um coletivo que se embruteceu ao adotar o discurso ditado por uma mídia perversa, que está a serviço do que é de pior na nossa sociedade de fortes traços escravocratas: o corporativismo de carreiras de elite, o poder econômico de rentistas especuladores, de entreguistas da Pátria, de traidores e alto-traidores, de gente tomada do ódio de classe, de fascistas embrutecidos e saudosistas da ditadura, enfim, de uma malta de canalhas que só pensa no próprio umbigo.

Mas você é maior. Paga o preço dos grandes transformadores. Não espere gratidão dessa turba, mas você sempre terá o carinho de dezenas de milhões de brasileiras e brasileiros que lhe devem a inclusão social, de inúmeros povos a quem demonstrou a solidariedade do Brasil. Que não ousem, os amestrados miquinhos do fascismo, promover algazarra com seu sofrimento, pois saberemos, quem o respeitamos como Brasileiro, reagir à altura. Tenham, esses energúmenos, cuidado e se recolham. É o melhor que podem fazer, para que não tenhamos que ofender os animais, igualando-os com estes.

Lula, receba neste momento de profunda dor, a nossa compaixão. Choramos com você o sofrimento desse martírio. Dona Marisa chegou a esse estado porque, como muitos de nós, que amamos o Brasil, sentiu-se profundamente ferida, supurada, em carne viva, com o momento trágico deste País, entregue a uma corja de aves de rapina. E ainda foi alvo de persistente, covarde e mortífero ataque de quem o queria atingir através dela! Não lhes dê essa mórbida satisfação: ignore-os.
Mas claro que o sol vai voltar amanhã! Desejamo-lhe muita força neste momento e fiquemos juntos, unidos por um futuro melhor.

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