sábado, 8 de junho de 2013

Não falem mal do meu país

O pernambucano Nelson Rodrigues tinha razão: brasileiro tem complexo de vira-latas. Via de regra, parece sofrer de um prazer masoquístico, um complexo de inferioridade doentio que não se justifica de jeito nenhum. Nos últimos dias, vi até um candidato a presidente, de oposição, torcendo pra que a inflação recrudesça, pra assim vender sua demagogia barata. Absurdo isso. Pra que torcer contra o Brasil? Não tem proposta decente, então se cale macho. Mau brasileiro esse sujeito.

Não digam que o Brasil não presta. Não digam que o Brasil não tem jeito. Não digam que o Brasil não tem arte. Não digam que o Brasil não tem ciência. Não digam que o Brasil é sujo. Não digam que o Brasil não tem civilidade. O Brasil tem tudo de bom e não é ufanismo besta meu, não. É a bela mistura de nossa raça que nos fez assim. É o nosso caboclismo, de que tenho muito orgulho, que nos deu essa têmpera de aço. Sou caboclo sim, Senhor, e não tenho complexo de vira-latas. 

Ganhamos cinco copas do mundo. Nenhum outro país do mundo fez isso. Os nordestinos esticaram nos peitos a linha de Tordesilhas, criando o Acre. Fomos os inventores do avião com Santos Dummont, assistido por centenas de pessoas, levantar voo em Paris e nem assim protestamos quando se vendem os irmãos Wright, com sua máquina empurrada por catapulta externa e sem presença de público, como os primeiros no voo. Marconi veio depois do padre gaúcho Roberto Landel, o inventor do rádio. Inventamos o Bina pra identificar chamadas telefônicas. A nossa música brasileira é riquíssima. Noel Rosa, Cartola, Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Fagner, Belchior e muitos outros são gênios. Música brasileira é a coisa mais linda que há.

E me apoquentam com essa estória de violência nacional. Que o Brasil está apavorado. Que não sei o quê mais. Brasil apavorado? Apavorado estou eu, mas não quando estava no Brasil, ou quando estive recentemente no Rio; mas, nesse momento, em viagem à Paris. Em Paris, sim Senhor. Dizem que é a Cidade das Luzes. Cidade das Luzes? Só se for no tempo de Rousseau. de Voltaire, de Zola, de Flaubert, de Balzac e de Vitor Hugo. Hoje, Cidade da Luz não é mais Paris. Pra mim, Cidade da Luz, pode até ser a Fortaleza do Ceará, do Brasil. Pelo menos por lá nunca tive batida de carteira, com direito de empurrão covarde,  de quase quebrar os beiços no chão, feito por dois ou três meliantes, provavelmente romenos, em pleno "civilizado" metrô de Paris, sem que um só policial agisse. Se fosse aqui no Brasil, a gente do lado dava um sabacu, um salga neles. Em Paris, é cada um por si, nem se olha um pro outro. Fazem de conta que ninguém viu a desgraça alheia.

E se vá ao Louvre, o maior museu do mundo. Ali, além de banheiros sujos de dar dó, de recepcionistas mal humorados e mal educados, estão estampadas também advertências de batedores de carteiras que são muitos. E pouco se vê de polícia. E se vá a Torre Eiffel que estão por lá dezenas de meliantes jogando a cumbuca pra pegar gente que pensa que Paris é civilizada. Toda hora, todo dia, os meliantes afanam livremente o alheio, sob às vistas de autoridades policiais. Mulheres querendo ler mão e de olho na carteira da vítima. Todo essa gente, todo tempo, ludibriando turistas e ninguém faz nada. A marretagem, às vistas de todos, sem que um policial desperte de sua letargia fardada e acorde para uma mesma pequena ação. E vá andando na cidade que em todo canto se vê gente passando por surdo, vendendo listinha, querendo enfiar os dedos ágeis e arteiros nos bolsos do incauto.

Paris civilizada? Uma ova. Pelo menos hoje.  Não se vê polícia, ou se vê sem nenhuma ação. As sirenes dos carros penso que são só pra impressionar. Muita gente que fala um francês com descortesia com o turista que é a fonte primária de sua renda. Por aqui quanta gente mafiosa faz seu pasto? Vendedores de águas sujas em garrafas usadas dezenas de vezes. Banheiros sujos em Paris. Diziam-me que banheiro sujo era no Nordeste do Brasil. É verdade. O Nordeste do Brasil tem banheiro sujo, mas Paris tem também. Nos últimos 3 dias, vi isso e digo nesse desabafo, no correr da pena, e ainda estuporado da queda que quase levei de dois ou três dos meliantes muitos que operam em Paris. Ainda exausto do esforço pra estornar cartões de crédito de um Banco verdadeiramente civilizado, o único que agiu prontamente em meu socorro: o Banco do Brasil. Digo essas coisas  e mais pra estabelecer contraponto à nossa autodepreciação constante: Brasil é que é o país verdadeiramente civilizado.

Já a Europa das civilizações perversas que saquearam povos com o seu colonialismo bárbaro - é só ver as peças riquíssimas, tomadas como butins de guerra pros museus famosos. A Europa que enche os olhos de brasileiros com complexo de vira-latas e de peruas vistosas e perfumadas. A Europa hoje não me convence. Precisei vir aqui pra firmar tal compreensão e quero repassá-la aos que ainda não a viram e se empolgam com fantasias; pelos que cantam-na com complexo de vira-latas; pelos brasileiros presidentes subalternos que disparam "Vive La France" e criticam sem dó o Brasil. Não, a fantástica civilização mista brasileira nada deve a esclerosada Europa.

George Alberto de Aguiar Coelho
(Escrito depois de algumas horas que fui roubado na "civilizada" - entre aspas - Paris.)



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