segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ainda estímulo à indústria automobilística?

Ministro, o carro "brasileiro", como o Senhor sabe mais do que eu, é um dos mais caros do mundo. Garanto, pro Senhor: não é só por causa do imposto, não. É o lucro que é grande mesmo. Então, se alguém tem como queimar gordura pra vender mais carro, esse alguém é a  própria indústria automobilística que o produz. Diminuir a carga tributária do automóvel beneficiando-a, apesar de à primeira vista o benefício ser do consumidor? Indústria que já aufere lucros elevadíssimos. Não faz sentido, não. Se as montadoras querem vender mais carros, então que barateiem o seu produto diminuindo a margem de lucro. Que vendam, por exemplo, o carro no país com o mesmo preço que o comercializam lá fora. Qualquer empresário sério, quando precisa, faz isso. Então, por que a indústria de automóveis tem de ser diferente?

Por outro lado, se as montadoras não querem vender mais carros, até que não é má ideia, não. A gente não pode ficar pensando como se estivéssemos em 1960 na era JK. O mundo mudou, temos de mudar também. Sim, passou da hora de se ficar sempre imaginando benefícios pras montadoras, porque empregam e pagam impostos. Tanta gente emprega e paga imposto sem ajuda nenhuma do governo. Moral da estória: nem sequer temos um carro nacional. De tal maneira, que a grana do carro desliza em royalties preciosos pro estrangeiro cada vez mais ávido por dólar nessa crise medonha. Quanto à mão de obra, o processo de montagem de automóveis é por demais automatizado hoje. Greve de metalúrgicos, como as da época do Lula, é coisa rara, porque a indústria dos carros tanto demais tem em tecnologia, quanto de pouco tem de emprego.

Ministro, precisa-se mesmo é pensar e por mãos à obra em transportes de massa, em navios de cabotagem nacional, suprimir os desvios e percursos inúteis dos caminhões por estradas que se  esburacam a cada ano. Precisamos fabricar trens e ferrovias, que trem já fazia parte da visão de D.Pedro II e do barão de Mauá. A Argentina, desde há muito, já os tinha de ruma cortando os pampas. Trens cortando toda a imensa Rússia foi o que de bom fez os Csares (Transiberiana etc.) e depois o Stalin. Trens confortáveis ligando o Canadá, de Leste a Oeste. E trens não tão confortáveis assim, ligando a Índia, movidos pelo engenho extraordinário inglês e a gente resistente e criativa indiana. E a China? Cada vez mais desenvolve, testa e constrói trens de alta velocidade com tecnologia própria. Mesmo tendo a China carro nacional pra exportar mais barato que o resto do mundo. 

Metrôs? Carecemos de mais metrôs, como o Senhor conhece bem os da Europa, que também tem, em montes, os trens ligeiros. Tatu gigante não deve faltar pra gente cavar veloz sólidos buracos fundos. Por que a gente não tenta fabricar os tatuzãos, como são chamados por aqui? Tecnologia? Precisamos, isso sim, de tecnologia nacional e não é favorecendo a indústria automobilística estrangeira que a gente vai conseguir isso. Sim, o egoísmo do uso individual do carro tinha de estar com os dias contados, nem ruas temos mais pra tantos carros. Se vai dar mais safanão em pedestre pra conseguir espaço pra mais carro? Ou se vai  arranjar  um jeitinho brasileiro de trepar um carro em cima um do outro? 

Ministro, libere dinheiro pra essas coisas solutivas de que eu lhe falei. Conte com a engenharia brasileira, um país não se faz sem engenheiros e sem ciência verdadeira que pesquisa coisa nova e reinventa, melhorando, as velhas. Monetarismo e tributarismo têm limites. Assim, incentive e cobre dos centros de pesquisas nacionais projetos de locomoção, de mobilidade etc. Eles lhe darão bom retorno.  Não esqueça também de fazer ciclovias, Ministro. É muito mais democrático, bom pra economia, pro inteiro-ambiente e pra saúde. Bicicleta é tão útil em Amsterdã como o era no Limoeiro do meu Ceará de tempos atrás. Não se vê mais bicicletas, por aqui. Nem se vê jumento, nem cavalo. Só o ruge-ruge das motos infernais, financiadas a perder de vista. Muito vivente opta por elas, por questão de economia. Outros não andam de bicicleta porque carecem da certeza de voltar pra casa vivos. Garanto pro Senhor que essas propostas bestas que eu lhe disse aqui dão muito mais empregos do que promete lobista de montadora fazendo beicnho pra baixar carga tributária. Pois, se  a gente mirar pro chão da fábrica dele, se vai ver que funciona mesmo é à base de robots computadorizados vindos do estrangeiro.

George Alberto de Aguiar Coelho


Nenhum comentário:

Postar um comentário