segunda-feira, 26 de março de 2012

Desperdício de Água

Se vazar uma bacia
sanitária de banheiro
levará um bom dinheiro
que fará falta um dia.
Desperdício, até na pia,
quase coisa do passado?
Até posso está errado,
mas vejo no dia-a-dia,
no prédio Alexandria,
um consumo de nababo.

E o gasto da bacia?
São dois litros por minuto
que dá um consumo bruto:
três metros cúbicos por dia.
Não lhes dá uma agonia?
E são dias de derrame
ainda que se reclame
da água que se esvazia
dia e noite, noite e dia,
de instante a cada instante.

Se o descuido persistir,
vejo uma solução:
o Síndico chamar a atenção,
e deve até insistir,
que é seu dever bem gerir.
Mas se a resposta for não,
para esta situação,
deve instalar medidor,
pra que, sem nenhum rancor,
se saiba cada porção.

George Alberto de Aguiar Coelho

sábado, 24 de março de 2012

O Papagaio



Hoje, 23/3/2012, Chico Anísio se foi. Pensei em homenageá-lo. Versejei então uma estória contada pelo gênio de Maranguape num livro escrito em 1977, portanto há 35 anos, pelo menos. Deu 24 versos. 
Chico Anisio foi universal. Como ninguém, soube explorar traços das pessoas que mais achava interessantes. Nisso, respeitava profundamente a diversidade de comportamentos, mesmo porque eram as fontes de sua criação. Assim, compôs 209 personagens bem distintos tirados do mundo real e do imaginário popular.
E, com meia dúzia de palavras, deu vida de gente ao papagaio da nossa estória. Tal como Graciliano Ramos fez a cachorra Baleia sonhar sonhos de preás em Vidas Secas. 

Seja do dono que for
Não gosto de papagaio
Não sou santo no balaio
E mando tomar no cu
Igual a raça do bicho
De penas: o papagaio.

Não sei se é a língua seca
Ou se é o bico bem virado
Ou se são os pés pra dentro
Malandro no caminhado
Eu só sei que eu não me dou
Com o louro palreado.

A gente tem o direito
E isso eu não discuto
De gostar de quem quiser
Mas desse pássaro astuto
Que faz o gosto do dono
Eu, só de ver, fico puto.

Dá o pé louro aqui
Vem meu louro pracolá
Raça alguma de vivente
A gente vai maltratar
Só o cão do papagaio
É osso de se aturar.

Mas meu patrão cria um
No casarão onde mora
Na rua Santos Dumont
Grande por dentro e por fora
Me mandaram entregar lá
Carta urgente, certa hora.

Cheguei na casa e toquei
Me atendeu a empregada:
“Cadê o patrão?” Falei seco
E a dona abusada:
“Peraí, que vem resposta,
Do patrão, escriturada”.

No alpendre, fiquei só
Me sentei no parapeito
E escutei uma voz:
“Veado”. Ouvi direito?
Não, não pode ser comigo
Que ser macho é meu defeito.

 “Veado”. Ouvi de novo
Olhei em procuração
O Senhor entende Dotô
A minha situação?
Não olhei em atendimento
Pra não dar confirmação.

Todo mundo tem seu gosto
Garanto pra Vosmicê
A coisa que é mais melhor
Pra cada um há de ser
Mas fela da gaita nenhum
Meu gosto vai destorcer.

E não tenho nada contra
De quem dá o que quiser
E é toda a natureza
Que diverge em muita fé
Só que sempre meu negócio
Desde sempre foi mulher.

Então vi o meliante
Mordendo taboca fina
Amarrado num poleiro
Se rindo da minha sina:
“Custou atender, Veado”.
Falou de novo o facínora.

Não sei nem se foi bem isso
O recado que me deu
Eu só sei que deixou claro
Que o baitola era eu
Mirei o cabra de asas
Danou-se. A raiva cresceu.

Parti pra cima do bicho
Pra lhe dar um safanão
Aí ouvi outra voz
Mais grossa. Era o patrão.
Me virei para o distinto
Por respeito e sujeição.

Mas o safado de asas
Numa quenga situado
Disparou a gritar:
“Veado. Ele é veado”.
Fez pouco de minha mãe,
Minha mulher! Delegado.

Esquentei as orêias
Senti o estômo embruiado
Que o bicho fez foi rir
Meu patrão! Seu Delegado
O home ria das besteiras
Do papagaio safado.

Foi muita, tanta mentira
Que saí estoporado
Até que o patrão ordenou
Pro tal amaldiçoado:
“Tá bom, meu Louro, por hoje,
Deixe o rapaz sossegado.”

Saí da casa do home
Ele rindo. Eu chateado
Não dormi naquela noite,
Até ver o clareado,
Ouvia a voz bem fanhosa
“Veado. Ele é veado”.

Mas não ficou nisso só
A minha expiação
Que eu tive depois de ir
No trabáio do patrão
Na rua Major Facundo,
Fortaleza de Assunção.

Eu não contei pra ninguém
Minha sofrida derrota
Mas meu patrão espalhou
E emendou mais lorota
Do fela da gaita da ave
Pro povim fazer chacota.

Chegava um e dizia:
“Ele te chamou de veado?”
Eu ia desconversando:
“Papagaio é inocentado”
E um sapecou a gritar:
“Quede o João Papagaiado?”.

Não gosto de apelido
Mais ainda se o nome
Me afilia ao mentiroso.
Cruz, Credo, Ôxe se some
Ave tão desinfeliz
Falta nada faz pro home.

De tanto eu ouvir calado
Me danei a divagar:
“Aquele peste me paga
Não custa nada esperar”.
E saí a meia-noite
Na forma de me vingar.

Da casa do meu patrão,
Escura, pulei o muro
Percurei o papagaio
Mas clareou-se o escuro
E a lanterna do vigia
Desclareou meu futuro.

Perdi então meu emprego
Me chamam de Joao Ladrão
Mas Delegado eu juro
Eu não ia roubar, não
Só enfiar u´a pimenta
No fundo do falastrão.

George Alberto

Sobre o genial Chico Anisio, no dia de seu falecimento, me emocionei com o depoimento de Lúcio Mauro, ator parceiro e seu mais antigo e fiel amigo, na Globo: “O Brasil perdeu um dos maiores artistas do mundo na arte mais difícil que é a arte de fazer rir”. O cearense Chico Anísio foi tão grande quanto Charles Chaplin. Um parêntesis: a mídia tá chamando o maranguapense de Chico Anysio, porém tenho três livros dele e em nenhum dos três existe este ipsilone, não. Minha homenagem pra ele são esses versos que fiz, no dia de sua partida, 23.3.2012, baseada numa estória que escreveu no livro de sua autoria: O Tocador de Tuba. Editora Rocco. 1977, págs. 64 a 67.
Fortaleza, 23 de março de 2012
George Alberto de Aguiar Coelho

Cearensês:
Alpendre = Varanda
Baitola = Veado
Balaio = Cesto de palha, de talo de carnaúba ou de cipó
Desclarear = Tornar menos claro
Desinfeliz = Infeliz
Dotô = Doutor
É osso = É difícil
Estômo embruiado = Estômago embrulhado
Estoporado = Estuporado
Fela da gaita = Fela da puta
Fela da puta = Filho da puta
Fez pouco de = Zombou de
Home = Homem
Ipsilone = Y
Mais melhor = Melhor
Orêias = Orelhas
Ôxe = Ôxente = Ó gente
Peraí, que vem resposta = Espera aí. porque vem resposta
Percurei - Procurei
Quede? = Que é de? = Cadê?
Quenga = Vasilha feita da metade do endocarpo de um coco
Sapecar = Bater
Trabáio = Trabalho
Vosmicê = Vossa Mercê = Você

segunda-feira, 19 de março de 2012

Devagar com o andor que o santo é de barro


Cumpade George! Cuma tem passado cum a famia?

Se num temo santo brasileiro, bem que São José nos serve. Tem cidade com nome do santo em tudo quinté banda, desde São José do Rio Preto, no Sum Paulo, inté a terra do cumpade Hamilton: São José do Mipibú. Mas São José é mermo é padroeiro do Ceará, pro mode que é o santo das chuva e 19 de março é seu dia. O caboclo no sertão carece de chuva e entonce se fia inté em mandinga pra descobrir tempo chuvoso pro mode vever e prosperar. Vesp’ra do dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, faz 6 pedrinha de sal, e deixa no relento vendo as que se desmancha n´água. Cada pedrinha, representando seis meis na frente: pedrinha desonerada, meis bom de chuva. No Natá, percura a barra no céu. Entonce, se a barra num vem, a terra inda continua estorricada, o vento soprando forte e vermei o sol, se socorre pro dia de São José, pra donde devota suas última esperança de chuva. Se não chover inté ai: babau sararau.

Pois bem, cumpade, em todas as vez do dia do Santo, me alembro de uma historinha passada no Quixeramobim, noutras  eras mais longe, mas adispois de ali já ter sido só malhada de gado e arrancho de vaqueiro, pro mode se achar as macambira, o capim mimoso e as plantação nas croas do rio mei aos aluviões: a Freguesia de Santantoin de Quixeramobim. Lá foi adonde nasceu o Santantoim Conselheiro de Canudos. Vosmiçê conhece bem o Quixeramobim, a  mei camim entre Quixadá e Senador Pompeu, lugar quente, sagrado, de reza, e de santo, entonce num carece de mais presentação.

Pois bem, o que queria mesmo eu palestrar era sobre a história de que me alembro sempre.  Naquelas eras, Seu Vigário, da paróquia de Quixeramobim, queria um São José deferente do que tinha entonce na igreja. Ele pensava: “O povo vai se sentir mais atraído se o santo do seu adoro se aparentar mais cum eles, mode se enxergar um no outro”. E apois? O que ele tinha na igreja era mei brancoso, tipo galego, duns óio meie azulado, denunciando ser doutras bandas, e a gente daqui sendo mermo bem deferente, oio melado, gente mei acaboclada, tiquim sarará, cabeça chatada e sem pescoço, de se espichar em rede de tucum, que é que nem nóis dois somo iguaizim, cum as graça de Deus!

Entonce que Seu Vigário pediu ao Berquió, mestre de loiça, zaroi mais bom de ofice, que fizesse um São José de barro pro mode trocar o antigo de loiça branca francesa nos intrevalo da procissão. Preguntou quanta era o trabáio de Berquió e este arrespondeu: “Num carece não, Seu Vigário, empereito sem paga”. Combinado, Berquió trabaiou no santo cum toda devoção de um cristão condenado, cum prejuízo inté da sua broca de roçado, de mie e de feijão que restava findar e inda de plantar mei às coivaras do mato, que era tempo de plantie. Vesp’ra do dia do Padroeiro, se assucedeu que Berquió cumpriu o trato: intregou ao Seu vigário o São José feito de barro. Satisfação pra aqui, pracolá, o Santo entonce é prometido pra procissão do dia seguinte em lugar do São José de loiça branca, muito bem guardado no artá pra qualquer emergênça e pras ocasião especiar.

Boquinha da noite, Berquió todo banhado, de calça de brim azul e sandália de rabicho de couro cru, prontim, prontim, espiava pra donde pegar o andor que ele merecia de levar na procissão do Santo. Num sei cuma, Cumpade, mas Seu vigário tinha um penso deferente. Colocou uns Sinhô vestido de paletó de casimira branca, de calça de lim, tresandando prefume pra tudo quinté lado, pra segurar o andor: o Deputado, o Prefeito, o Juiz, o Delegado, o Coroné e o Agiota. Dizi que pra cada um tinha um motivo. O Prefeito trabaiava cum as  verba inviada pelo Deputado. O Juiz era otoridade de mando do Delegado que obidicia as ordins da Incelência: batia e prendia. O Coroné, além de acoitar pistoleiro, fornecia o capão, o bacurim, a farofa, o chouriço e o bolo de macaxeira que, na falta de outre, ele mermo arrematava no leilão mei às quermesses da festança do padroeiro. O Agiota, num era boa gente não, cumpade! mais num podia ser esquecido no andor que o ome era ladino e prevesso qui nem jagunço tocaiado em avelós: um carcará sangüinolento.

Vendo a arrumação, foi, num foi, Berquió recramou: “Seu Vigário entonce num vou segurar o andor mermo tendo feito o Santo todim? E o crérigo arrespondeu: “Meu Fio, espie: você está de brim azul e pragata de rabicho de couro cru. Só pode levar o Santo quem tá de terno, de cambraia branca, gravata, caça de lim, meia e sapato sociar”. Nessas alturas, cumpade, carece  dizer pra vosmicê que segurar o andor é prova de prestige e poder nas redondeza. Largou-se a procissão. Foguetório, e as Vivas. Vivas pra São José: viva! Vivas pro Seu Vigário: viva! Vivas pro Deputado: viva! Vivas pro Prefeito: viva! Vivas pro Juiz: viva! Vivas pro Delegado: viva! Vivas pro Coroné: viva!  Vivas pro Agiota: viva! ... Vigie: ESQUECERAM DO BERQUIÓ.

Mais tarde, chove copioso que São José tarda mas num faia. O Prefeito escorrega no chão liso feito sebo e tchacabuuufo cum as venta no chão que é sangue espirrando pra tudo quinté banda. O santo se desequilibra e por pouco num se arruina todo em caco  mei aos lamento dos omes e das muié rezadeira. Ufa! Ufa! Ufa! ... Adispois de ricuperado o equilibre, a procissão tem de seguir sem o Prefeito, que as ventas foram pro remendo. Mas o camim tá um brejo só, mode o massapê vermei, tá liso feito uns diabo da molesta. Logo agora num trecho de quebrada e aclive fundo e os omes do carrego tão descaídos! No perigo, Seu Vigário num teve conversa não e ordenou: “Berquió? Ninhô, sim! Seu Vigário. Berquió, vem Berquió! Te alui ome! Tu é a salvação! Pega o lugar do Prefeito! Ajuda Cristão de Deus!”. Mas Berquió, que na coxia do camim só acompanhava a procissão, enxotado que foi do andor, arrespondeu: “Não. Esconjuro, Seu Vigário. Posso não. Tou de brim e pragata de rabicho de couro cru. Magina se for, meu Santim vai me arrenegar!."

Do Cumpade Bastião de Zeca! De Santantoim da Pindoba, do Ceará, nas quebrada da Serra Grande cum o Piauí, no dia da graça de 19 do março de 2005.

George Alberto de Aguiar Coelho

segunda-feira, 12 de março de 2012

Meu Ka por uma canoa


Pra quem quer comprar um Ka.
Ele é novo e é todo azul,
Que eu quero atravessar
O riacho Pajeú.

O meu Ka é bem ligeiro,
Me custou um bom dinheiro,
A flandagem tá bem boa,
Uns ferruginhos à toa,
E uma mancha amarela.
Só tou trocando porque
Não gostou do aguaceiro
Que cai na Fortaleza Bela.

Entrou água pela porta,
O meu canudo molhou,
Meu diploma de dotô.
E quando abri a janela,
Um sapato fanabô
Do tempo do meu avô
Quase que me atropela.

Só vendo se for agora,
Embora não seja hora
De pegar oferta boa,
Que a chuva tá caindo.
Vendo, ou troco o meu Ka
Por uma boa canoa.

George Alberto de Aguiar Coelho
Escrito em 28/02/2007

Desenho de Sandra Maria de Aguiar Coelho

sábado, 10 de março de 2012

O P101 da Olivetti







O primeiro computador que me viu fazer linhas de programa foi um 1130 da IBM que pertencia a  Unversidade Federal do Ceará – UFC. Na época, deixava-se de lado as réguas de cálculo, substituídas que foram pelas calculadoras. O IBM 1130 tinha 16 kbytes de memória principal (RAM). Os programas eram digitados em máquinas perfuradoras de cartões de papel de 132 colunas. Para cada  instrução de programa, correspondia um cartão de papel perfurado. A leitora de cartões, ligada ao equipamento, funcionava com uma escova que penteava cada cartão, conectando os dados perfurados destes  com os circuitos elétrícos da máquina. A linguagem que usávamos era o FORTRAN, apropriada aos cálculos de engenharia. Outra linguagem que o equipamento aceitava era o COBOL, usado na área administrativa. Assim o IBM 1130 tinha compiladores, progamas que faziam tradução dos progamas fontes em linguagens FORTRAN e COBOL  para a liguagem inteligível da máquina.
Um programa consistia em dezenas, às vezes, centenas de cartões. Para rodá-los - se dizia rodar, em vez de executar - empilhava-se primeiramente os cartões do sistema monitor (espécie primitiva de sistema operacional), depois os cartões do programa propriamente dito e, por fim, cartões de finalização do trabalho (job). A então fabulosa máquina da IBM era quase um medonho mainframe dos então anos 1973-1976. Como disse, pertencia a UFC e estava instalado no antigo CEU, restaurante universitário localizado na avenida 13 de maio em Fortaleza. Um dos especialíssimos técnicos que consertavam o equipamento era meu primo Potengy Coelho, um super-crâneo cabeça-chata da Big Blue. Os homens da IBM quando vinham ver o equipamento, chamavam a atenção pela elegância e sobriedade no vestir e no se comportar. Vinham em dupla, trajados elegantemente de calças, ternos e gravatas azul- escuro e camisas brancas.
Depois, já como engenheiro do departamento de estradas do Ceará, então DAER, eu trabalhei no primeiro micro que se tem notícia e que é assunto desta matéria do PRAVDA aí embaixo: o P 101 da Olivetti. Na ocasião, me lembro de uma consulta feita ao colega engenheiro Célio Melo que mexia com um desses micros pertencente à Escola Técnica e fazia programas extraordinários com a máquina. Usei o P 101 para cálculo estrutural. Um excelente programa de computador para cálculo de vigas contínuas elaborado pelo Professor Aderson Moreira da Rocha me serviu às maravilhas. Na época, fiz também alguns programas para dimensionamento de peças em concreto armado. O P101 trabalhava com linguagem simbólica. Armazenava dados e programas externamente em cartões magnéticos.
Viveu momentos de muita glória, o precursor dos micros. Foi até utilizado pela Nasa em seus programas espaciais. A Olivetti italiana, que antes fazia calculadoras simples, foi inovando e lançou os modelos P602/603 e P652. Mais adiante, o modelo P6060, programado em Basic.
Assim, o P101 fez parte de minha vida e dos primórdios da informática. Vê-lo numa reportagem de hoje, me faz sentir assombro com o avanço da tecnologia de computadores e pensar que, no mundo, tudo é ligeiro e fugaz.



P.S.
Meu amigo Célio lembra que:
"O primeiro que programei, em 1967, anos antes de entrar na EEUFC, foi justamente esse mixuruca P101, como era mais conhecido. Havia um deles na Química do IBUC. O prof. Hugo Mota também tinha um deles. Anos depois, a Olivetti lançou o P602/P603, que permitia calcular estradas, rodar folhas de pagamento (meio que a manivela, cartão por cartão). Tinha memória equivalente a três linhas de 80 colunas: 0,25k. Havia vários desses em Fortaleza: na UFC, na EFCE, na Protégia. Vinha com duas bíblias enormes de instruções. O resumo das instruções do P101 era esse:http://www.old-computers.com/museum/photos/Olivetti_Programma101_SummaryCard_s1.jpg

quarta-feira, 7 de março de 2012

De novo, mudaram de cara.

Por que as interfaces dos programas que a gente mais usa ficam sempre mudando as feições, nem sempre pra melhor? Deixa a impressão de que os caras responsáveis pelo visual das telas gozam de uma impaciência infinita com o que é estável. É tudo uma metamorfose ambulante cibernética. Dá-lhe Raulzito! Ou será por que se preocupam com o usuário a ponto de fazerem com que as mentes destes fiquem devaneando sempre em novos caminhos numa busca terapêutica e de prevenção contra doenças degenerativas neuroniais, tais como o Alzheimer, ou mesmo o simples tédio? Não creio em tais fins filantrópicos. A coisa tá mais pra brincadeira de esconde-esconde às custas do tempo do infeliz usuário.

Agora, por exemplo, estou com a interface do meu facebook irreconhecível para o que era antes. E não estou a fim de sair procurando, feito uma besta, adonde o programador danado saiu escondendo o que antes pra mim estava escancarado às vistas. Sei lá onde meteram agora o item "grupos"? Não vou procurá-lo, mesmo. Se Maomé não vai a montanha que a montanha então vá a Maomé. Vai nada, my friend do facebook. Sou só um dos milhões de usuários da rede conduzido como boi em manada. E foram até democráticos. Ficaram me perguntando se eu queria mudar meu modo de me ver no mundo. E eu dizia não. Que todo mundo queria me conhecer. E eu dizia não. E se eu não queria contar qual foi o dia e a cidade onde nasci e do que mais gosto de fazer. E eu dizia, não. Da coisa "mais" melhor que eu já tinha feito. E eu dizia, não sei. E de tanto responder perguntas bestas, acabei dizendo ao insistente inquiridor um sim, querendo dizer um não. E aí minha interface mudou. Minha vida mudou.

Sei qual é a desse povo. Eles querem é que você saia por aí flanando e clicando feito um desesperado macaco em loja de vender louça. Você sai abestado olhando coisas esparramadas em sua volta que não lhe interessam. Então, pelo artifício mercadológico cientificamente muito do bem estudado, as coisas inúteis se transformam em sôfregas necessidades.

Pra todo programa de massa vale a assertiva de  não deixarem a gente ficar quieto num canto. Ontem, por exemplo, um colega me chamou pra ver a interface do novo Windows: o Windows Oito. A Microsoft tinha feito a delicadeza de liberar a versão beta (pra teste). Aliás tio Bill nuca foi besta. Vai pegar trocentos zilhões de testadores sem lhos pagar uma pila. Pois bem, já fui desconfiado atender ao convite do colega. Eu que praticamente me obriguei, por circunstância de ofício trabalhoso, a conhecer todas as interfaces anteriores do Windows. Me obriguei nada. Me obrigaram, isso sim, porque esse negócio de o produto tá no mercado e você o usa se quiser, é muito do papo furado. Conversa pra boi dormir. Não existe consumidor consciente e mercado livre é uma medonha lorota. Somos presos mesmo desse troço chamado mercado, querendo ou não. Pois bem, eu que fui convidado pelo meu colega a dar um hello pro feto do novo Windows, que promete ser prático, bonito e coisa e tal,  fui ver o menino na telinha .  Mas pro danado, porque ainda está em gestação, nem sei dizer da  estética. É como se o tivesse visto por ultra- sonografia, sem tê-lo nos braços. Olha a batida do coração dele como é bonita! E as formas invejáveis!  Me desculpem não achei nada disso, não. Só pensei no tempo que vou perder pra descobrir onde os brothers geniais do tio Bill esconderam as rumas de ovos de páscoa no brinquedo deles.

Isso tudo é marketing. E os caras de marketing são perversos, em todas as áreas. A malvadeza deles, por exemplo, é uma das razões pra minha ojeriza em fazer compras. Deixo claro que, em supermercado, procuro só adquirir o essencial. Aliás, aqui no Ceará, por razões de origem do dono do primeiro, supermercado é chamado mercantil. Assim, comprar pouco, e só o útil, é o que procuro fazer nos mercantis. Sai mais barato, rápido. Não enche o saco, literalmente; nem dá dor nas costas do peso de carregar apetrechos. Então, saio atrás do feijão, do arroz, da farinha... Arreégua, cadê a farinha que tava aqui? E o feijão, não ficava nessa prateleira, não? Desse jeito, tenho de fazer passeio forçado e ver coisas que nunca me servirão pra só depois descobrir as que quero. Pqp, e as horas? Nem horas sei mais porque, em mercantil,  relógio e tempo de freguês é coisa que não se preza.

George Alberto de Aguiar Coelho

quinta-feira, 1 de março de 2012

Aprender o bê-a-bá com a Ucrânia

Na indústria aero-espacial, creio que o caminho certo é o que o Brasil segue agora. Aprender com os ucranianos. Por que não também com os russos e chineses? Devemos investir maciçamente no aprendizado da engenharia de foguetes. O projeto Cyclone-4 permitirá que a Ucrânia, em convênio com o Brasil, lance em 2013 um novo foguete a partir do centro brasileiro espacial de Alcântara no Maranhão. Em 20 anos de programa aero-espacial, a Ucrânia fez 125 lançamentos de foguetes e 238 satélites para 19 países. E o Brasil? Neca de pitibiriba. Então, fazer acordo e aprender com a Ucrânia é trocentas vezes melhor do que tatear no escuro ou, a troco de banana, entregar e perder a soberania da base de Alcântara para os americanos,  como ficou numa peinha de nada de acontecer no governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso.


(Pelo amor de Deus, ninguém é obrigado a saber russo. Use o Google Tradutor, que ele é chegado ao idioma do Gagarin)

George Alberto de Aguiar Coelho