sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Morre Dona Mocinha, irmã de Lampião

Lendo a notícia, me lembrei de Dona Mocinha. Assim como a irmã de Lampião, a gente do Crateús e pé-de-serra, das quebradas da Ibiapaba, chamava de Dona Mocinha, minha avó por parte de mãe. O nome pregou nela, no lugar de Maria Elias de França Aguiar

Nordestino dá significado aos nomes de pessoas, lugares e coisas. Isso vem do costume índio que corre nos couros da gente daqui. A alcunha de Lampião, por exemplo, pegou depois de um combate, ainda quando Virgulino Ferreira da Silva era subalterno do grupo de Sebastião Pereira (Sinhô Pereira) e Luis Padre. Se diz que na briga, o rifle de Virgulino era vê um lampião aceso, pois não parava de disparar pra riba de poliça infeliz.

E foi na Serra Talhada, antiga Vila Bela, nas ribeiras do Pajeú pernambucano, que nasceu o briguento Lampião. A mulher dele, Maria Gomes de Oliveira, ou Maria Déia, depois Maria Neném porque, antes de entrar no cangaço levada por Lampião, foi esposa de José Neném. Era chamada de Dona Maria pelo bando ou então "a mulher do capitão". Pegou fama como Maria Bonita. Já Ezequiel Ferreira da Silva ou Ezequiel Profeta dos Santos, irmão mais novo de Lampião, pela pontaria das boas que tinha, ganhou apelido de Ponto Fino. Outro chefe de bando foi Corisco que teve Dadá como companheira de desgraça.

E mais apelidos de cangaceiros sugeriam significados próprios, indicando características, habilidades e fatos vividos pelo alcunhado: Volta seca, Labareda, Zé Sereno, Ventania, Jararaca, Cobra Verde, Mergulhão, Labareda, Tiririca, Moeda, Moreno, Jurema, Asa Branca, Bem-te-vi, Beija-flor, Sabiá, Juriti, Azulão, Canjica, Candeeiro, Moita Braba, Lavandeira, Pavão, Zabelê, Zepelim, Pai Velho (por ter o cangaceiro mais de 70 anos). Os cachorros de Lampião tinham o mesmo tratamento. Eram Guaraná e Ligeiro.

A gente sabe também da lenda de corpo fechado de alguns cangaceiros. Lampião usava bem deste mito. Assim, quando sucedia dum cangaceiro padecer da morte fatídica em combate, era comum seu nome ser transplantado pra quem lhe substituísse. E se dava um jeito de esconder o morto, pra não lhe degolarem a cabeça como prova do sucedido.

Ainda da notícia do jornal abaixo a respeito da morte da irmã de Lampião, me chama a atenção a idade em que morreu: 104 anos. Já minha avó, também Dona Mocinha, faleceu em 1989, com 89 anos. Sertanejo tinha apelido simples e comia de forma frugal.

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2012/02/10/morre-dona-mocinha-irma-de-lampiao-31839.php

Fonte e foto: Lampião o rei dos cangaceiros. Billy Jaynes Chandler. Ed. Paz e Terra. RJ. 1981.


Maria Elias de França Aguiar, Dona Mocinha, minha avó, casada com o capitão Raimundo Inácio de Aguiar. Foto tirada (por Adauto Coelho ou por Manuel Elias de Aguiar)  na Fazenda Boca da Picada, situada no município de Piracuruca, no Piauí.

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