domingo, 31 de julho de 2011

Reflexões de Marco Aurélio

Marcus Aurelius Antoninus Augustus, Roma (121-180), um dos mais importantes filósofos estóicos, foi Imperador Romano no período 161-180. O pensamento abaixo está em Meditações - livro 2.5, escrito pelo Imperador, em campanha na Grécia, no período de 170-180.

“Decide com firmeza, a todas as horas, como romano e como homem, fazer tudo aquilo que te chegar às mãos com dignidade, e com humanidade, independência e justiça. Liberta o espírito de todas as outras considerações. Isso podes fazer, se abordares cada ação como se fosse a última, pondo de lado o pensamento indócil, o recuo emocional das ordens da razão, o desejo de causar uma boa impressão, a admiração por ti próprio, a insatisfação pelo que te calhou em sorte. Vê o pouco que um homem precisa dominar para que os seus dias fluam calma e devotadamente: ele apenas tem de observar estes poucos conselhos, e os deuses nada mais lhe pedirão.”

George Alberto de Aguiar Coelho
Publicado no BC/I-Decop de 22/02/2008

sábado, 30 de julho de 2011

Na Paraíba, todo Severino é Bill

Diz’ que todo Severino,
Na Paraíba, é Bill.
Tem Severino menino
Pras contas de mais de mil.

Severino mão-de-vaca,
Severino Catolé,
Severino de Seu Zé,
Severino de Toinha,
Severino de Zequinha,
Vixe! Tem mais Severino
Que, no chão, bicho-de-pé.

Da ruma de Severino,
Tem Severino importante,
Graúdo, interessante.
Severino monsenhor,
Severino pós-doutô,
Seeverino deputado,
Severino meliante.

Mas um tal de Severino
Inventou o computador
Das figurinhas piscando,
E dizem que já ganhou
Tem num sei quantos bilhões.
Ôxente! Donde saiu,
O Severino Portões?

George Alberto de Aguiar Coelho
Escrito em 19/06/2007


Fonte: O tema "Na Paraíba, todo Severino é Bill" e o termo "Severino Portões" ouvi de Helder Maia.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Monsenhor Huberto Bruening e a abelha Jandaira

O Monsenhor Huberto Bruening era catarinense de São Ludgero. Viveu na região de Mossoró-RN, ali falecendo em 1995. Conheceu, na prática dedicada e diária de longos anos, a vida das abelhas; especificamente de uma abelha indígena do Brasil, em risco de extinção: a Jandaíra. O Monsenhor é direto e sábio em sua preleção e respeito à natureza. Os escritos abaixo - retirados do livro “A abelha Jandaira. Padre Huberto Bruening. Sebrae. Natal/RN-2006” - são de sua autoria.

“Como não conheço nenhum escrito específico sobre Jandaíra, fui obrigado a freqüentar a escola das Jandaíras, observar seus hábitos, seu trabalho, sua família, sua organização, manias e travessuras. Isto por mais de 30 anos. Serviu de aprendizado, lazer, higiene mental e reconstituinte, passatempo, espanta tédio e sobretudo é o segredo de manter-me em contato com Deus...”.

“Todos os animais respeitam o ambiente em que vivem, menos o homem. O peixe mantém límpida a água em que passeia. O pássaro conserva puro e diáfano o ar que cruza. A minhoca revira o solo mas não o degrada, ao contrário, torna-o mais fértil. A fera mora na selva, percorre-a atrás do sustento sem contaminá-la nem destruí-la. O colibri sorve o alimento do nectário das flores, roça com as suas pétalas delicadas sem deixar sinal de sua visita. A Jandaíra visita milhões de flores para coletar um quilograma de mel, passeia pelos estigmas, estames e anteras para colher pelotas de pólen, sem vestígio de sua presença, pelo contrário: enriquece-as através da polinização. Quanta lição de inseto para o rei-da-criação... o mais violento dos bichos... o mais barulhento.”

“Observemos o estardalhaço dos carros de zoada e o estrondo das motocicletas... fragor de batalha... sem nada produzir, a não ser ruído. Belíssimo exemplo de laboriosidade, de previdência e providência, de frugalidade e economia fornece a Jandaira ao homem consumista e tecnocrata. Ela recolhe sempre que pode e o que pode – e guarda, ensila, economiza, sem nada esbanjar. Guarda até quotas supérfluas, Jandaira não alimenta vícios, como faz o homem. Não fuma, não masca, não se embriaga, não sorve droga, não cheira cola, não se empanzina. Reparte a vida entre trabalho e repouso...”.

George Alberto de Aguiar Coelho
Publicado no I-Decop BC de 15/02/2008

domingo, 17 de julho de 2011

O livro que não li

Quando vi o título do livro, “Como Falar dos Livros que Não Lemos", de Pierre Bayard, me veio duas lembranças. Uma antiga, foi de  reportagem que li - não sei aonde - de um jornalista que  entrevistou Nelson Rodrigues. O escritor e teatrólogo pernambucano era também extraordinário comentarista de futebol de onde retirava matérias para frases lapidares parecidas com: “O pênalti é tão importante, que o presidente do clube é quem deveria batê-lo”. Pois bem, Nelson marcara a entrevista com o jornalista exatamente no dia e hora de um importante jogo do campeonato carioca. 

Dia e hora marcados, estava o jornalista - apreensivo e pensativo -  na porta da residência de Nelson: “Ih! Vai zebrar. Nelson não se lembrou do compromisso do jogo de hoje; essa hora, deve está no estádio”. Tocou a campainha, mas Nelson estava, atendeu, mandou subir; e o recebeu; e desligou o rádio que relatava o início da partida. E a entrevista foi longa que demorou todo o lapso do jogo. No final, o jornalista agradeceu, um pouco com remorsos. Pensava: atrapalhei o Nelson; amanhã, não teremos comentário dele sobre o jogo. Dia seguinte, pegou o jornal na página de esportes, lá estava o comentário do Nelson Rodrigues, como sempre, brilhante.

A segunda lembrança, mais recente, li na revista História da Biblioteca Nacional, ano 3, n. 28, de 01/2008, p. 70/75, diz que o pintor Jean Baptiste Debret - o mais notório retratista do Brasil no século XIX - foi pouco além da Corte do Rio de Janeiro e boa parte de passagens por ele retratadas de vários locais que ele não visitou eram inspiradas em desenhos de outros artistas  que, esses sim, tinham estado naquelas paragens.

De tal sorte, que conto essas duas lembranças, pra evitar falar de um livro, que fala sobre como falar de livros que nunca lemos, sem não o ter lido.

Mas, adianto: pelas resenhas que li, o livro é muito bom. E pra confirmar, veja só o que li na Carta Capital de 06/02/2008, p. 59: “Professor de Literatura na Universidade de Paris e psicanalista, o autor Pierre Bayard desfaz mitos sobre a leitura ao mesmo tempo que flerta com seus irresistíveis mistérios. Tudo num tom descontraído. Por meio de personagens literários e escritores, ele recria as corriqueiras mentiras de quem diz que leu algo sem ter lido, pondera que “ler não é apenas se informar é também esquecer “ e defende uma teoria sobre as bibliotecas particulares e universais que compomos não só a partir das páginas folheadas, mas também a partir do que ouvimos, vivemos ou, simplesmente inventamos – APS”.

George Alberto de Aguiar Coelho
Publicado no jornal I-Decop BC em 02/2008

sábado, 16 de julho de 2011

Preceitos Ecológicos do Padrim Ciço Romão


O mundo tá se acabando
Não vou ser o derradeiro
Mas vou abrir o berreiro
Reclamando do meu jeito
Vou mostrar cada preceito
Do Padrim Ciço Romão
Se ele disse assim ou não
Não cabe aqui eu julgar
O importante é o verbo amar
Saído do coração

Plante tudo nivelado
Não toque fogo no mato:
Capim mimoso lhe é grato.
Boi e bode é no cercado
Guarde a água do telhado
Todo dia plante árvores
Abrande a força das águas
Não derrube um pé-de-pau
Não maltrate o animal
Nunca mais guarde uma mágoa

A caatinga é nossa amiga:
Sabiá, maniçoba
Croatá e algaroba.
Nunca envenene a espiga,
Ar, fruto, terra ou água.
Use o sumo da urtiga
Passarim controla a praga
Não lavre subindo serra
Ame e sinta a mãe terra
Faça o bem sem pedir paga

George Alberto de Aguiar Coelho
Escrito em 02/2007

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Terra é um ser vivo

Os sistemas componentes da Terra são parte de uma mesma entidade auto-reguladora que age de forma a preservar as condições favoráveis à vida. A Terra está longe de ser um planeta morto feito de atmosfera, oceanos e rochas inanimadas onde, só por casualidade, a vida surgiu e prospera. É, ela também, um verdadeiro sistema abrangendo toda a vida e o meio ambiente umbilicalmente ligados formando um organismo auto-regulador. A Terra regula a atmosfera, mantendo uma mistura imensa e instável de gases de composição constante por longos períodos de tempo, de tal forma a ser preservada a vida em sua superfície.

Fascinantes e controversas, as hipóteses acima, cultuadas por ecologistas e ambientalistas, hoje acompanhados por um número crescente de homens da ciência, são parte da Teoria de Gaia, nome grego da deusa da Terra, desenvolvida pelo médico e biólogo James Lovelock e pela bióloga Lyn Margulis, nos anos 60.

Conforme Lyn Margulis, quando os cientistas nos dizem que a vida se adapta a um meio ambiente essencialmente passivo de química, física e rochas, eles perpetuam uma lógica mecanicista seriamente distorcida própria de uma visão de mundo falha. A vida, efetivamente, fabrica, modela e muda o meio ambiente ao qual se adapta. Em seguida, este meio ambiente realimenta a vida que está mudando, atuando e crescendo sobre ele. Há interações cíclicas, portanto, não-lineares e não estritamente deterministas.

Para James Lovelock, profeta das mudanças climáticas, a Terra conheceu diversas idades, nas quais predominaram diferentes formas de vidas, iniciando-se com os seres anaeróbicos, até chegar aos aeróbicos - como nós, humanos - consumidores de oxigênio, veneno para os primeiros. Assustador, para nós, é que em apenas três séculos, a partir da industrialização, a humanidade mudou mais o aspecto do planeta do que a evolução natural o fez em centenas de milhares de anos. Diante de tamanhas e tão bruscas intervenções humanas, a Terra buscará um novo equilíbrio. O preço a ser pago poderá ser o desaparecimento do homem, marcando uma nova idade de Gaia.

George Alberto de Aguiar Coelho
Publicado no I_Decop BC 25jan2008

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Dádiva, o bar da Diva

Gemem lentos cata-ventos
Brancos, longos, sonolentos
Estranhos experimentos
Na estrada do bar da Diva

Dançam dunas e coqueiros
Um bosque de cajueiros
Mar azul em corpo inteiro
Vida leva ao bar da Diva

Balança fresca a redinha
De linha da mais clarinha
É Japão, ou é Prainha?
Onde fica o bar da Diva?

No quintal, um bogari
Na panela, arroz, piqui
“Tá pertim. É bem ali,
Mais com pouco é o bar da Diva”

E do lado da igrejinha
Das rendeiras da pracinha
Meto os pés na areia alvinha
Brisa alisa o bar da Diva

George Alberto de Aguiar Coelho
Escrito em 12/2006

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Um dia de cão

Vi um cachorro girando
Mordendo seu próprio rabo
De olhar, tive enfado
Gania de quando em quando.
Me lembrei de um fulano
Que pra pagar um cartão
Pego numa promoção
Outro pediu emprestado,
E cada vez mais fiado
Se comporta como o cão.

George Alberto de Aguiar Coelho
Escrito em 30.06.2006

terça-feira, 12 de julho de 2011

Homenagem

Nunca esqueço a esquelética Maria
Era a mais pontual das lavadeiras
Conseguia passar noites inteiras
Engomando os lençóis da burguesia
Da sua carunchosa moradia
Vinha um ranger eivado de canseira
E nem sei se era um ruído de madeira
Ou se era o seu corpo que rangia
Vivendo entre camisas engomadas
Eu lembro as suas mãos tão calejadas
E detesto a camisa em que me encerro
Se me saísse a alma da carcaça
Eu a daria e lhe diria: passa, dona Maria,
Passa essa alma a ferro!

Poesia de Giuseppe Ghiaroni  publicada no jornal “O Povo” por Cristiano Câmara. Não anotei a data da publicação.

Sobre o Poeta:

Sobre lavadeiras:
O tempo das lavadeiras passou. Lavavam as roupas em rios, em riachos, em tanques. Vejo-as, há uns 40,  50 anos atrás, onde hoje é a avenida Aguanhambi, lavando roupas, o vestido entre as pernas cobrindo as partes pudicas, cheirando a sabão, estendendo os lençóis brancos nos coradouros de pedra. A rotina pesada de lavar: entrouxar, molhar, ensaboar, bater, corar, enxaguar, secar, engomar e passar.

Sobre Cristiano Câmara:
Mora em uma antiga casa com um museu aberto às visitações. Há um riacho passando no quintal da casa: o Pajeú.  Câmara, parodiando Fernando Pessoa, assim se refere ao riacho: “não é o Tejo, mas é o rio que corre por minha aldeia”. Espécie de Ariano Suassuna cabeça-chata, Cristiano Câmara  é pesquisador, colecionador, conhecedor de música e, ocasionalmente, contribui nos jornais alencarinos trazendo peças preciosas como a acima.

 George  Alberto de Aguiar Coelho
 Escrito em 12/2007

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Imaginação

A imaginação é a chave de tudo. Chave porque abre as portas. Sonho é imaginação. Imaginação + vontade + realização = bingo!
Se houver conflito entre imaginação e vontade, a primeira sempre vence. Aprendi que em todo situação de conflito, negociação, debate, disputa, discussão etc. - em que vontades diferentes tentam se impor - é melhor encarar tais embates como um jogo. A ansiedade fica  menor. Nem sempre é fácil. Há situações difíceis de serem tratadas assim. Como exemplo, se deve pensar duas vezes antes de advogar, tratar, curar em causa própria ou de parentes. O emocional envolve o racional. No entanto, se conseguirmos vê-las como um jogo, se fica mais relaxado. O racional predomina e a situação de estresse até se torna lúdica.

Isso é teoria. A distância para a prática é longa. Porém, vale a pena ir treinando, como se faz, ou se deveria fazer, num jogo. Treino físico, mas antes o treino mental: imaginar. Claro, porque tudo isso é um jogo mesmo. Quem sabe, também, não somos peças pseudo-inteligentes teleguiadas por entes do cosmo longíquo disputando partidas que não são apenas nossas? 
Os grandes jogadores imaginam suas jogadas. Sonham, conscientemente, realizando-as. Quando chegam na hora de jogar: "É só partir para o abraço!". Então nada de se desgastar inutilmente criando ansiedades desnecessárias. Estressar-se é preciso. Viver estressado, não é preciso. O estresse deve ser pontual - como o era nos homens das cavernas surgindo apenas quando frente a um perigo iminente - nunca um estresse constante. Penso assim, mas falar é uma coisa, fazer é outra bem diferente.
Bom jogo, Pessoas! Mas antes, façam o jogo na imaginação. Imaginem-se, tão verdadeiramente como no real, vencendo. Imaginem-se criando belas jogadas. Imaginem-se vencedores. 

George

Escrito em 28.11.2009

Yes, we have pterossauros

 O esquisitíssimo pterossauro (as asas chegavam a 4,5 metros) já deve de ter feito uns vôos rasantes pela serra de Santana, no Cariri cearense. Isto há uns 100.00 milhões de anos, antes de virar carniça, que o destino dele agora é outro. Virou celebridade nas mãos de Mark Witton, paleontólogo inglês, porque foi nomeado como nova espécie do gênero Tupuxuara. Ficou assim: Tupuxuara Deliradamus. O Deliradamus, coisa parecida com diamante louco, veio por conta dum buraco em forma de diamante que o réptil voador tinha no crânio, bem como da inglesia do Mark Witton Explico melhor: admirador de Pink Floide, se lembrou da canção “Shine on you crazy diamond”.

Inglês gosta de diamantes. Vê-se nos filmes e romances do americano Sidney Sheldon: mulheres belíssimas… e diamantes. Não foi à toa que se grudaram na África do Sul, onde foi descoberto o maior de todos: 1,4 kg. E quando desenterraram Lucy, em 1974, na Etiópia? Lucy foi o elo de ligação entre o homem e o macaco. Viveu há menos tempo que os Tupuxuaras: só uns 3,5 milhões de anos atrás. Embora não tenha aprendido a voar, a macaca-gente achou por bem ficar de pé e correr, que tigre faminto tinha de mais e árvore pra se trepar, de menos. Pois bem, na hora da descoberta de Lucy, a radiola dos gringos tocava “Lucy in the sky with diamonds” dos Beatles. Mas onde meteram o cabeça-chata Tupuxuara Deliradamus, e a etíope Lucy. Resposto. O primeiro repousa, na Universidade de Portsmouth (Reino Unido). Já dona Lucy está despida a olhos, e ossos vistos, no Museu de História Natural, em Nova Iorque. A gente sabe que existem umas leis no Brasil contra a saída de fósseis (na Etiópia deve de ter também). Porém, de Santana saem rumas deles pra país civilizado. Well! Sem compradores, esse comércio não existiria.
Mas, sem bulir mais com o alheio, o que eu queria mesmo é que se achassem mais espécies de pterossauros, fartos que são na região de Santana. Alíás, Tupuxuara vem do Tupi e significa espírito familiar. E queria também que os Mark Witton fossem brasileiros. Quem sabe, em vez de Pink Floid, não se homenagearia o Patativa, que é do Assaré, da serra de Santana. Ou o Luiz Gonzaga – que é dali de perto também, do Exú, – cuja mãe chamava-se Santana. Quem sabe não batizaríamos o novo pterossauro de Tupuxuara Patativa ou Tupuxuara Santana.
George Alberto de Aguiar Coelho
Postado em 15.09.2009 no http://www.crato.org/blogdocrato/?p=8403

sábado, 9 de julho de 2011

O Menino e o Circo


Ôh raio! Ôh sol! Suspende a lua. Olha o palhaço que sai na rua.

Ôh raio! Ôh sol! Suspende a lua. Olha o palhaço que sai na rua.
Sonolento acordei muitas vezes, eu e meus irmãos, com o refrão cantarolado carinhosamente, às vezes por meu pai, às vezes por minha mãe. E a gente ia despertando criança pra escola, pro dia, pra vida. Um despertar gostoso que me dá saudades. Não sabia em que raios de lugar e hora tinham os meus pais escutado a música que, de quando em quando, me vem à mente. Só hoje, ao lembrar de novo a suave melodia, descobri a autora.
O Menino e o Circo - Eli Camargo

            Minha cidade amanheceu risonha!
            Chegou o circo! –  está a anunciar. 
            Grita o palhaço da perna de pau.
            Minha gente acorda para ouvir cantar.
                                                                                               
                                    E eu, menino, moleque de rua,
                                    Vou bem na frente, pra chamar atenção.
                                    Talvez me vendo assim animado,
                                    Me dê entrada o dono da função.

Ôh raio! Ôh sol! Suspende a lua.
              Olha o palhaço que sai na rua.
Ôh raio! Ôh sol! Suspende a lua.
              Olha o palhaço que sai na rua.    
           
                                    Quanto alegria! Foi armado o circo!
                                    Está em festa o largo da matriz.
                                    Em volta dele, corre a meninada,
                                    E eu, brincando junto, também sou feliz!

            Zé Fogueteiro hoje vai ao circo,
            Todo exibido, veio me contar,
            Pra queimar fogos, já ganhou bilhete.
            No camarote diz que vai sentar.

                   Ôh raio! Ôh sol! Suspende a lua.
                                 Olha o palhaço que sai na rua.

            Para juntar dinheiro, eu vou depressa
            Vender cocadas que a doceira fez!
            Vou lavar vidros, vou vender garrafas,
            Vou engraxar sapatos pra qualquer freguês.

                                    E se, de noite, pra meu desengano,
                                    Eu não  puder sentar na arquibancada,
                                    Eu, de gaiato, vou forçando entrada,
                                    Bem escondido, por baixo do pano.

  Ôh raio! Ôh sol! Suspende a lua.
                Olha o palhaço que sai na rua.
  Ôh raio! Ôh sol! Suspende a lua.
                Olha o palhaço que sai na rua.    

George Alberto de Aguiar Coelho

Reflexões - Bertrand Russel

O decálogo abaixo — retirado do livro “Autobiografia de Bertrand Russel. Ed. Civilização Brasileira, vol. III. Rio de Janeiro, 1972, p. 71/72” —  é de Bertrand Arthur William Russell (1872-1970), brilhante matemático e filósofo.  Russel lutou pelos ideais humanitários e pela liberdade de pensamento; foi um crítico influente, controvertido e mordaz, contrário à guerra do Vietnam e ao uso de armas nucleares; recebeu o prêmio Nobel da Literatura em 1950.

  1. Não te sentirás absolutamente certo de coisa alguma.
  2. Não pensarás ser vantajoso progredir escondendo as provas, pois elas virão à luz inapelavelmente.
  3. Não temerás o raciocínio, pois com ele vencerás.
  4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja a de teu marido ou de teus filhos, esforçar-te-ás por superá-la pela força dos argumentos e não pela da autoridade, pois uma vitória que depende da autoridade é irreal e ilusória.
  5. Não respeitarás autoridade de outros, pois encontrar-te-ás sempre com autoridades contraditórias.
  6. Não usarás do poder para suprimir opiniões que julgas perniciosas, pois se o fizeres as opiniões suprimir-te-ão.
  7. Não temerás ser excêntrico em tuas opiniões, pois toda e qualquer opinião hoje aceita já foi outrora excêntrica.
  8. Encontrarás mais prazer na divergência inteligente do que na concordância passiva, visto que, se apreciares devidamente a inteligência, a primeira implica um acordo mais profundo do que a segunda.
  9. Serás escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois mais inconveniente será quando tentares ocultá-la.
  10. Não sentirás inveja da felicidade daqueles que vivem num paraíso de insensatos, pois somente um insensato pensará que isso é felicidade.

Publicado no informativo BC I-Decop de 15/02/2008.

George Alberto de Aguiar Coelho