quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ano novo, tudo novo!

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Ano novo, tudo novo!
Todo mundo diz assim num só jargão.
Mas será sempre o novo melhor que o velho?
Tudo o que começa agora melhor que os que vão?
Sei não! Sei  não!
Prefiro o velho e conservado vinho,
Mais o novo e o maturado pão.


George Alberto de Aguiar Coelho

Desenho de Sandra Coelho          



terça-feira, 27 de dezembro de 2011

PIB do Brasil passa o do Reino Unido

PIB do Brasil passa o do Reino Unido. Agora, Brasil é a sexta maior economia do mundo. Ainda vai levar mais 20 anos pra se alcançar o padrão de vida inglês. Mas pra quem caiu, em ritmo neoliberal, de oitava pra décima quarta economia, até que foi um salto dos enormes.
George Alberto de Aguiar Coelho.




quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Papai Noel, eu te peço


Que nossas cestas de natal continuem fartas, mas que dê preferência aos que não têm cestas de natal.
Que os ruidosos brinquedos piscantes de nossos filhos continuem piscantes e ruidosos, mas que, principalmente, suas almas continuem, além de piscantes e ruidosas, sensíveis  às almas das iguais crianças que nunca tiveram brinquedos piscantes e ruidosos.
Que nossa rica mesa de fiambre e queijo nos faça lembrar da mesa limpa dos desvalidos.
Que o vinho, prestes a regar nosso corpo nesse dia, nos embriague a alma de boas fantasias e nos faça perceber que o mundo é o produto do que somos e pensamos.
Que um pouco do muito dinheiro gasto nessa época chegue aos que pouco dinheiro têm.
Que nossas festas de natal cheguem aos que não têm festas.
Pois que o nosso homenageado – que veio para nos servir - não teve mesa farta regada a vinho, fiambre  e queijo, não ganhou ruidosos brinquedos piscantes, sua cesta foi uma manjedoura de palha e nasceu simples criança pobre.

George Alberto de Aguiar Coelho



sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Feliz Natá!


Entonce, nesse Natá,
Comecim de novo ano,
Que teje certo seus prano,
Idéia e coisa e tá.
Faço voto afiná,
De saúde, paz e amô,
Pro pobre, rico e dotô,
Tudo vivente do mundo,
Que no fundo, bem no fundo,
É fio dum só Sinhô.

George Alberto de Aguiar Coelho


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cadê o Patati e o Patatá?



Foi divulgado um show do Patati e Patatá

Juntei o meu dinheiro e fui bem cedo adquirir

Comprei com trinta contos dois ingressos pra assistir

O show anunciado: Patatá e Patati

A policia, que chegou antes do show começar,

Falou que os dois não eram Patati nem Patatá

E o pau começou logo, ninguém dentro quis sair

Escafedeu-se os clones clowns Patatá e Patati

Paguei caro o ingresso e não pude assistir

O show dos dois palhaços Patatá e Patati.

George Alberto de Aguiar Coelho

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Vazamento da Chevron


http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1021290-procuradoria-pede-indenizacao-de-r-20-bi-por-vazamento-da-chevron.shtml

Tá certo o MPF. Tem que dar multa alta. Multa de merreca não funciona. O cidadão que atravessa o sinal, ou passa da velocidade no trânsito, recebe multa braba, pois coloca em perigo vidas alheias. Da mesma forma, uma empresa, se negligencia procedimentos de segurança fundamentais, tem de sentir no bolso o custo da infração cometida. Mas, mesmo a multa sendo alta, tem um porém. Com a justiça e as leis que temos, a Chevron pode cozinhar o galo durante 15, 20 anos e acabar pagando, se pagar, a tal de merreca de que falei. Esse é o Brasil que insiste em não mudar. Rico em recursos naturais, paupérrimo quanto às leis concretas e processuais que, embora volumosas, protegem quase sempre o infrator. Num cenário assim, defender réus é estar no melhor dos mundos. De tal forma, que as instituições, via de regra e por consequência, se comportam de forma reacionária, isto é, dão com frequência a Cesar e a seus apaniguados o que não é deles. E quando estes aparentemente estão em apuros, o sistema absorve as acusações e os deixa livress pelo declínio do tempo e do esquecimento. 

George Alberto de Aguiar Coelho



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dia de Santa Luzia



Triste Partida
Patativa do Assaré
Cantada por Luiz Gonzaga e Gonzaguinha

Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai

A treze do mês 
Ele fez experiência
Perdeu sua crença 
Nas pedras de sal, 
Meu Deus, meu Deus 
Mas noutra esperança 
Com gosto se agarra 
Pensando na barra 
Do alegre Natal 
Ai, ai, ai, ai



A treze do mês de dezembro de 1912, na cidade de Exu, Cariri pernambucano, nascia o sanfoneiro Luiz Gonzaga. Todo dia treze de dezembro é dia de Santa Luzia. Assim, nada melhor que se relembrar hoje os dois eventos com Luiz Gonzaga cantando Triste Partida de Patativa do Assaré, seu vizinho cearense da serra de Santana do Cariri. Como tudo é imbricado no sertão caririense, Santana, talvez por inspiração da Serra, era o nome da mãe querida e cantada em versos do Rei do Baião. E por que Triste Partida? Porque nela Patativa evoca as experiências feitas pelo nordestino para previsão de seca, fenômeno vital em sua sobrevivência. Dentre as experiências, a das pedras de sal. No dia de Santa Luzia, o sertanejo coloca seis pedras de sal ao relento, cada uma representando os meses de janeiro a junho do ano seguinte. Conforme cada pedra se dissolva no sereno da noite,  assim será o inverno nos meses do ano próximo.  É de se dizer que, no Nordeste, inverno não tem o conceito convencional de estação climática, mas sim se está chovendo. Por aqui, as chuvas se dão de janeiro a abril, ou mais tardar maio, quando não ocorrem as secas.
George Alberto de Aguiar Coelho

Aquarela de Sandra Maria de Aguiar Coelho



sábado, 10 de dezembro de 2011

Código Desflorestal

Dona Dilma dê seu veto
Nesse projeto horroroso:
Quem desmatou pague a conta
Ou plante as árvores de novo.
Discurso nacionalista
Contrário ao meio-ambiente
Não cabe na discussão
Invencionice de gente
Que acabou com a mata
E agora quer perdão.

Quer defender o Brasil?
Nacionalize o petróleo
Energia, mineração,
Isso tudo foi riscado
Da nossa constituição;
Bote cabresto nos bancos
Que com juros escorchantes
Saqueiam nossa nação;
Cobre imposto dos ricos
E aplique na educação.

George Alberto de Aguiar Coelho

http://www.cartacapital.com.br/politica/se-dilma-nao-vetar-texto-deve-passar-pelo-stf/


Plebiscito no Pará

Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Carajás? Não.
Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Tapajós? Não.

Se votasse no plebiscito da divisão do Pará, faria assim. Como não voto, posso muito dar minha opinião de brasileiro que, embora não conheça o Pará, pelo menos de ter posto os pés no estado, sabe de seu gigantesco potencial econômico e natural.

Quando os portugueses nos tinham como colônia, o Maranhão e o Grão-Pará eram tratados de forma distinta ao Brasil. Tinham administração própria. Seja pelas dificuldades de navegação contra correntes marítimas de Pernambuco para o Norte e vice-versa; seja pela insalubridade da região amazônica, a divisão demorou e quase foi reacesa no inicio do império. Assim, a gigantesca área, que chegou a abranger o Piauí e também o Ceará, foi a última a se libertar de Portugal. Com a exploração da borracha, o Pará, principalmente sua capital Belém, e a capital do Amazonas, Manaus, tiveram um grande surto de desenvolvimento econômico. Findou-se o progresso com o tráfico de seringueiras para a Malásia a mando do império britânico. Bem recente, o ouro de Serra Pelada, descoberta por garimpeiros, escoou em toneladas escondidas para fora do país, sob às vistas intervencionistas e incompetentes de militares que a ocuparam. Serra Pelada, de serra vistosa que era, virou um medonho buraco cheio d´água dado em concessão mineral. E o ouro da serra, como antes se dera com as minas de Minas, não serviu ao Brasil, não serviu aos paraenses.

Porém, hoje, há uma nova oportunidade de desenvolvimento da região: Carajás. O ferro de Carajás, o maior em quantidade e o melhor em qualidade do mundo, se bem administrada sua exploração, poderá tornar o Pará um dos mais desenvolvidos estados brasileiros. Mas aí se fala em dividir o estado paraense. Pra que se dividir o Pará? O argumento preponderante dos separatistas é que as regiões dos futuros estados, formados com a divisão, regiões, que se diz hoje, abandonadas, se desenvolveriam como aconteceu com o estado de Tocantins, desmembrado que foi de Goiás. O raciocínio, surgido de encomendas feitas à empresa de consultoria paga para defender à divisão, parece não ter firmeza, frente a dados que indicam não variarem significativamente os índices de pobreza no estado. Ainda, se assim fosse, pergunto: é preciso que se esquarteje um estado para levar desenvolvimento às regiões mais pobres? Não creio em argumento tão débil, ou não teríamos, o estado de Alagoas, um dos menores estados da União, quase tão pobre quanto o gigante Maranhão. Em ambos, como no Pará, oligarquias dominam a política.

O estado do Pará é o segundo maior estado em extensão territorial do Brasil. Se passasse a divisão, adviriam desta três estados: Pará, Carajás e Tapajós. Para o novo Pará restariam 17% do atual território que é de 1,2 milhão de km², teria Belém como capital. Carajás ficaria com 25% do atual Pará, sua capital seria Marabá. Tapajós ficaria com a maior extensão, 58%, e a capital seria Santarém. Quanto ao Brasil, de 26 estados, mais Distrito Federal, acrescentaria 2.

O que tal acréscimo traria de bom ao Pará é incerto, mas o que de ruim adviria ao Brasil não tenho dúvidas. De pronto, a necessidade de construir e manter estruturas governamentais e administrativas caríssimas pra cada um dos dois novos estados. Tribunais de justiças, de contas, assembleias, apêndices federais, palácios e residências pra dois novos governadores, vices e mais deputados estaduais pululariam às custas de verbas públicas. No Congresso Nacional, pelo menos mais oito novos gabinetes dilatariam a já obesa e dissipadora Câmara dos Deputados; mais seis senadores, assessores legislativos receberiam sem ter muito o que fazer e até onde sentar. Ademais, dúvidas restariam quanto ao interesse de natureza estratégica da divisão.

Quais os motivos de fundo para se criar agora um novo estado - Carajás - que concentra as maiores reservas de minério do mundo? O que se esconde nos desejos de adventícios, recentes ocupantes de área agrícola, e das festivas ONG´s na criação de Tapajós, estado que seria predominantemente formado por reservas indígenas e o restante plantado com soja transgênica fornecida por  uma empresa só? O que tem a ver as usinas hidrelétricas construídas no Pará, como Tucuruí que só perde em potência para Itaipu, e as usinas em projeto ou construção, como Belmonte (terceira do mundo, se trabalhasse de forma plena) e as cinco do complexo Tapajós (quase uma Belmonte plena), pois bem, o que tem a ver tais hidrelétricas com a cobiça divisionista?  Serão em parte os interesses separatistas no Pará semelhantes aos dos que buscam para si o pedaço melhor de outro estado, também ameaçado de esquartejamento, o Piauí?

Chega de divisões, De nada servem, a não ser atender aos desejos de ampliação de grupos de políticos, para replicarem arcaicas políticas de dominação. Divisões do jaez escondem interesses escusos, contrários ao Brasil. O país não comporta mais sentimentos divisionistas. O Pará não se divide! O Brasil não se entrega!

George Alberto de Aguiar Coelho

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sexo e poder

«Le sexe est une des formes primaires du pouvoir.» Ernesto Sabato.



A frase está em francês, mas o escritor, vencedor do Prêmio Cervantes de Literatura (1984), é argentino. Pra quem quer tradução: "O sexo é uma das formas primárias de poder". Mas, querendo brincar com o francês, a pronúncia do "pouvoir" ajuda, e a frase continua verdadeira: "Sexo é uma das formas primárias de povoar".
George Alberto de Aguiar Coelho


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Foram sete...

Dona Dilma, parabéns!
Pelo início de governo
Não se governa com medo
Nem tratando mal com bem
Governar vai mais além
E foi certo mandar cedo
Ministros para o degredo
São sete bem enxotados
Mas eu tou desconfiado
Que mais sete devem arredo

George Alberto de Aguiar Coelho

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Meu Lattes

A bem dizer, nasci ontem, 18/10/1952. A seca dos três oitos enxotou parte da família de avós de mãe a migrar pro Amazonas. Meu avô, foi seringueiro no Acre, por 30 anos. O sezão da mata, o medo de estrepada de índio e picada de cobra infeliz, meteram meu avô de volta pro Ceará, em balanço de barco de motor cansado, mais a mulher Mocinha vomitando grávida; minha mãe, Aldenora de colo nas tetas magras. Descarregou malas no porto de Camocim. Num matulão cheio de cobre azinhavrado, sobrou recursos pra passar documento de légua de pasto de boi, bode e carnaubeira, terra a perder de vista, nos confins do Piauhy. Trouxe rosário e, por via das dúvidas, garantiu, no surrão, terçado e papo-amarelo cruzeta, aviado em barracão à beira da foz do rio Envira. Na terra seca, levantou casa de três pisos. Parede de pedra de metro, teto de aroeira, pau-dárco talhado em serrotão, telha e tijolo de barro amolengado da Lagoa das Caraúbas. Fez açude com barragem de terra, barro puxado a lombo de jumento e couro de boi. Visto o trabalho, e o pau-de-fogo, ganhou patente de capitão respeitado na boca do povinho do lugarejo. Capitão Raimundo Inácio do Belmonte, vez em quando a gente escuta, anda enforcando pescoço de patife desaforado que mexe nos pés de Jucá no cemitério do morro onde descansa.

Se falei muito do meu avô de mãe, é que sua patente de milícia popular tá encruada em mim, por via da convivência. Nasci na casa grande do Capitão e o meu berro de vida se misturou aos berros de bezerros nascidos no curral do lado. Meu avô recebeu procissão do Alto Alegre num Dê licença Capitão, Parabéns, Sim Senhor, O menino é sadio. Enquanto o Capitão, deitado em rede de tucum, tirava a guarda, mascando fumo e cuspia certeiro no coco duma escarradeira de ágata. Mais tarde, enterrei umbigo na porteira das vacas amojadas e joguei dente de leite na cumeeira do telhado mal-assombrado. Pesquei traíra em açude. Piau em rio. Piranha em lagoa. Atirei em olho vermelhoso de jacaré e me perdi dia inteiro em caatinga desprovida de toda sorte dágua. Meu avô Capitão gastava autoridade guardando a mão do neto contra calo de mão de enxada. Meu pai Adauto - doutor de lei, nascido no Cascavel da rapadura, filho de Sebastião, senhor de bigode de severo respeito e de Dona Sinhá, rezadeira de novena - ajudou minha mãe Aldenora a me treinar o lápis, queimando pestana em luz bruxuleada de lamparina e vela – muito mais tarde, me ensinou a trocar válvula queimada de rádio.

Minha cabeça amarelosa, feito cabelo de espiga de milho, passeou em patronato no interior e me deu o desprazer de ser alcunhado Fogoió. Mais tarde no Ceará, trocado, ainda em pior desgosto meu, por Lourim. Levei corte de asa de Irmã por não ser merecedor na idade pra passar de ano. Minha mãe escumou raiva Que o bichinho não merecia isso ... e me empurrou pro Ceará sentado em poltrona da Expresso de Luxo gemendo tremelosa em rodagem de piçarra poeirenta. Nadei e joguei rede em cará e jacundá na lagoa de banho da índia Iracema. Meu tio Chico, dono de sonolento Prefect verde, contador de estórias e filósofo de pijama de riscado, tinha desacerto no fole e reumatismo. De posse dessas ruins qualidades, foi consertar pulmões nos debaixos dos mangueirais de Mecejana, nos arredores da terra onde nasceu e findou dos ares o finado ditador-presidente Castelo Branco, pra onde fui mandado escoteiro. Eu era o anjinho da minha bondosa tia Yayá. Sem ter o que fazer, caçava borboleta, espetava besouro, laçava tijubina, atirava pedra em rolinha e outras estripulias. Veio uma fábrica de veneno agrícola, matou minhas borboletas, besouros, tijubinas e rolinhas; parou de vez o fole do Titio. Chorei muito e fui encomendar as almas dos meus viventes em reza forte. Mudei pouco. Só bem depois, bicho do mato passou a ser meu aliado.

Alisei madeira de colégio público, onde o professor Jujú me obrigou - eu e mais cambada sem rumo - a declamar Camões, Castro Alves. Tinha o Fagner que decorou os versos de jangadeiro do Padre Antonio Tomás e arribou de lá nas velas do Mucuripe com voz de taboca rachada num Vida Vento Leva-me Daqui. Eu fui ler Guerra Junqueiro esperando gota de chuva se despencar em pé de macambira. Dou conta de desligado, porque adentrei ligeiro desprevenido apartamento errado na Bahia e já sai em mais de um fusca doutros donos. Mas sempre me desculpei num Sim, Senhor, Foi sem querer, Deixe disso, Não tem porquê.

Acertei contas na Engenharia Civil. Não serviu. Direito, não fiz direito. E de Administração até o computador da repartição onde trabalho não respeita minha patente: que careço de autoridade de administrador pras ingerências da máquina. Dia desses no Belmonte, desembuchei orgulhoso Que tinha manha nos programas; Que era mestre em computação e coisa e tal. Maria do Nêgo me esbregou: Que desrespeito, Que isso não era coisa dum neto garantido de capitão de milícia popular andasse espalhando por aí, Que arrumação de vícios desses ficasse guardado nos aposentos de luz vermelha. Por via de conseqüências de futuro incerto e desproveito de minha patente, aprendi um pouco de tudo, pra empurrar nos pés porta de juiz, desembargador em foro e responder no grito a cobrador enjoado. Vagueei pela Petrobrás, Departamento de Rodagem, Alfândega, professor da UNIFOR e Escola Técnica do Ceará e tou hoje na ex-SUMOC pastorando banco.

Parte de mãe, 5 tios: Epaminondas, Sebastião, Manuel, Gerardo, Walda. Parte de pai, são 7: Sebastião, Coelho, Yayá, Omar, Walter, Mário, Sylvia. Irmãos, 4: Sylvia, Inácio, Sônia e Sandra. Casei mais Vládia. Gerei descendência direta pra 3: Delano, Marcel, Suele; a quem transmiti um pouco do não certo. Gosto da escrita de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, J. Cãndido de Carvalho (De quem tou agora copiando o estilo por sugestão da dona do “Não me deixes” do Quixadá); de ouvir Luis Gonzaga, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Jackson do Pandeiro... Têm ainda Patativa do Assaré, Cego Aderaldo, Leandro Gomes de Barros, Leonardo Mota...

Mais dia, menos dia, num-sei-lá-não-sei-pra-quando, sobra minha devidamente desenvelopada vai servir de adubo a um pé de aroeira nas terras do Capitão meu avô que ainda penso proteger contra bicho-homem desalmado derrubador de pau dárco e matador de vivente de toda espécie. Minha prestação de contas pra São Pedro: bebi leite mugido, fiz safadeza de criança, judiei de passarinho; rezei salve rainha e padre nosso em confissão; aprendi catecismo com freira piedosa, formosa nos descobertos do pescoço; aprendi conta de somar no lápis do decote de professora de aritmética; vi as penas tortas do Garrincha e enjoei o Entende? do Pelé. Perdi tempo pro que não gosto, mas por dinheiro necessitado. E vi que tudo ou nada se acaba desprovido na natureza.

George Alberto de Aguiar Coelho

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Couro de Tolo

Paródia de Ouro de Tolo (Raul Seixas e Marcelo Nova)
http://www.youtube.com/watch?v=nvZAU5YYCHY&feature=related

Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito marajá execrável
E ganho dez mil dinheiros
Por mês...

Eu devia agradecer pelo Sinal
Pelo dito sucesso
Na lide pro analista,
Eu devia estar feliz
Porque já tou perto de ser
Especial 3...

Eu devia estar alegre
E satisfeito
Pelo aumento de cinema
Depois de quase ter passado
Fome por anos
Pra que uns reclamassem de glosa...

Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por não ser mais um fodido na vida
É que não gosto nada da piada:
Não tem jeito, relaxa e goza...

Ah!
Eu devia estar contente
Por ter escrito
Tudo o que eu quis
Mas confesso, abestalhado
Que eu estou decepcionado...

Porque é tão fácil se iludir
E agora eu me pergunto: e daí?
Uns caras têm uma porção
De coisas pra ganhar
E eu não posso ficar equiparado...

Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter concedido grana pros gringos
E ricas famílias.
Ouro e gente...é lógico,
Se ferra como o gado....

Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Comissão, gratificação
Coordenação
Tudo farinha do mesmo saco.

É você olhar seu espelho
Se sentir
Um ilustríssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
E tem que usar cangalha
Em vez da cabeça animal...

E você ainda pensa
Em ser doutor
Juiz ou um fiscal
Pra poder
Beliscar o bolo do
Belo quadro social...

Ah!
Eu que quando me sento
No trono, e passa o tempo,
Com a boca escancarada,
Ouvindo gente
Esperando o pé-na-cova chegar...

Porque por trás das portas
Giratórias
Que detectam metais
Sob o lume alto
Da câmara que vê
Assenta a sombra frondosa
De um tempo que voou...

George Alberto de Aguiar Coelho
Escrito em novembro de 2007




quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Steve Jobs foi pro céu!

Range um portão que se abre entre nuvens ...
S.P. - Steve? O Senhor é o Steve Jobs?
S.J . - Sim. E o Senhor? É ...É.... São Pedroooooo! ???
S.P. - Sim. Claro! Tomo conta daqui de cima há muito tempo. E o Senhor por que veio tão cedo?
S.J. - Sabe São Pedro, não foi vontade minha. Por mim, chegava aos 100 anos ou mais trabalhando. Veja o meu sobrenome. Só tou me sentindo melhor agora. Eram muitas dores. Câncer no pâncreas, sem jeito. Só quem já teve isso sabe como é. Doença dos infernos, com licença da palavra. E eu suportei estoicamente as dores. Trabalhei e criei quase até o fim. Morri chateado por não ter feito o lançamento do último modelo do iPhone ontem.
S.P. - Doença dos infer... essa palavra aqui não se pronuncia. Tem um alçapão automático. Falou o que não deve, abre pras profundezas. Mas e o iPhone? Não sabia! Então lançaram novo modelo do iPhone?
S.J. -  Sim, digo, não é bem assim. Nada de muito especial.  Pelo menos, o que foi lançado.
S.P. - Por quê?
S.J. - O Senhor sabe a gente na vida tem de ser esperto. O pulo do gato não se ensina...
S.P. - Como? Eu não sei dessas coisas impuras não Senhor!
S.J. -  É assim, São Pedro. Criei um novo iPad, inclusive ia dar outro nome pra ele. Aí veio a doença e eu tive de deixar a empresa. Não deu tempo de eu mesmo lançar o produto. Então mandei fazer um lançamento do iPhone só com umas pequenas novidades. Foi fraco! As ações da Apple caíram.
S.P. -  Entendi. Mas não vamos perder mais tempo que tem muita gente na fila pra entrevista. Tão dizendo que o Senhor foi o Thomas Edson do século XX. Macintosh, PageMaker, Toy Story, iPod, iPhone, iPad, iCloud: tá escrito aqui que inventou essas geringonças. Mas a gente é conservador, pondera muito mais as acusações. E, além da cobiça da maçã, tem umas graves contra o Senhor.
S.J. - Como assim?
S.P. -  Dizem que surrupiou os programas fontes da turma da Xerox de Palo Alto Center pra fazer o sistema operacional do Macintosh. É verdade?
S.J. - Well! Nem tanto! Nem tanto! Na realidade essa gente fez um computador chamado Star, ligaram vários deles em rede. Criaram também um sistema operacional diferente de tudo, Smalltalk, com o uso de mouse, ícones e lixeira na tela. Mostraram aos chefões da Xerox. Sabe o que os manda-chuvas responderam? Sim, Senhor! Então  a gente coloca vocês aqui pra fazer copiadora e me vêm com esse negócio de computador ligado um no outro, rato de plástico e figurinhas piscando? Quanta perda de tempo!
S.P. - Foi mesmo? E depois?
S.J. - E aí que o pessoal se chateou e, por coincidência, eu tava numa visita a eles. Ouvi a estória e pedi os fontes. Os caras não se negaram. A gente ia jogar mesmo no lixo, me explicaram.
S.P. - É, serve de atenuante. Mas mesmo assim fica ruim pra você entrar agora. O Céu aqui é muito seletivo. A menos que....
S.J. - A menos que...?
S.P. - A menos que prove que  um criador do seu naipe faz isso também. Sabe como é tem de provar que copiar do alheio é humano...
S.J. - Pois bem, então é fácil. Bill Gates fez pior.
S.P. - Como assim?
S.J. - Bill Gates me pediu trabalho. Disse que trabalhava até de graça pra mim, que me admirava muito, que eu era o cara e não sei quê mais. Sabe aquele famoso anúncio do Macintosh? Advinha quem tava no teclado servindo de passador de slides pra mim? Ele, Bill Gates.
S.P. - Sim, mas e daí? O que isso tem a ver com as cópias não autorizadas?
S.J. - Ah tem! O espertinho do Bill me enganou direitinho. Copiou escondido os fontes e criou o Windows dele. Escafedeu-se. Até hoje ganha dinheiro com as atualizações do Windows.
S.P. - OK! Dessa você se safou e eu pego o Bill depois. Aliás, você é um vendedor nato, dos que vendem vermelho pra luto. Derrubou a IBM, no anúncio do Macintosh, comparando a Big Blue com o Big Brother. Tá aqui no dossiê!
S.J. - É fácil, São Pedro, porque os meus produtos são mesmo os melhores, veja o Senhor,  por exemplo, a perfeição desse ...
S.P. - Peraí. É proibido vender bugiganga no Céu. Olha o alçapão!... Então quer dizer que você criou uma igreja própria chamada Apple com fiéis de carteirinha e tudo. Isso é proibido. Não dá pra entrar não!.
S.J. - Well. Não é igreja não, meu Santo. Apple é uma empresa. Não são fiéis, não. São fãs fiéis dos produtos dela. Esse aqui, por exemplo, era o que eu ia lançar mesmo e trouxe agora de presente pro Senhor. É um inédito e inigualável iPad que vai se chamar iPedro em sua homenagem. Sabe, a propaganda ia dizer que o iPedro abre até as portas do Céu pro dono. Mas só de brincadeira, viu Seu Pedro! É extremamente veloz, sincroniza em tempo real as pessoas que vão morrendo e se candidatando ao Céu, deletando de imediato quem não tem a mínima chance. Não precisa de satélites. Funciona sem bateria, é ecologicamente correto. Aliás, com o novo iPedro, o Céu trabalhará com portas virtuais, que essa estória de portões é coisa do Bill. Pois bem, o iPedro abre as portas virtuais automaticamente, tudo chave eletrônica.O Senhor não precisa mais trabalhar carregando essas pesadas chaves e cadernos. Digo, trabalhar fisicamente, porque  a sua presença virtual lhe trará a ubiquidade de Deus. Com todo respeito! E enquanto o Senhor dorme, clones seus atenderão de imediato, e com a mesma qualidade de serviço - melhor não diria - que o Senhor faz. As pessoas serão reconhecidas pela voz, cheiro, formato de rosto, piscar de olhos, aura, alma... Lê pensamentos. Tem detectores de mentira, de gestos e dos pecados mais sutis. Memória infinita, como são os céus. Com o devido respeito! É provido com softwares de última geração orientados a objetos espirituais. Deus ficará muito satisfeito e eu sempre poderei auxiliá-lo nas atualizações que forem necessárias... Funciona assim, deixa eu lhe mostrar...

George Alberto de Aguiar Coelho 

sábado, 1 de outubro de 2011

Polícia! Pra quem precisa de Polícia!

Polícia! Pra quem precisa de Polícia! (Titãs). Polícia é pra quem desvia verbas; assalta merenda escolar; desaparece com dinheiro público e nunca é condenado em instância final. Polícia é pra quem manda fabulosos excedentes de campanhas políticas pra paraísos fiscais; pra quem julga lépidos Habeas Corpus e demais recursos de bandidos financeiros plutocratas e os isenta num piscar de olhos. Polícia é pra quem sonega impostos; pra quem ganha comissões de obras públicas e faz conchavos nas concorrências das mesmas. Polícia é pra quem respeita de menos a natureza, de mais os bolsos; pra quem deixa brasileiro morrer à míngua em hospitais insalubres, enquanto aprova colossais verbas pra alimentar os muitíssimos menos de um por cento de rentistas financeiros que vampirizam a nação brasileira. Polícia é pra quem alimenta tráfico de armas e drogas; pra quem pratica discurso em campanha e depois o muda ao seu talante e interesse enganando o eleitor. Polícia é pra quem assassina Magistrada no exercício íntegro do cargo. Polícia é pra quem se aproveita do apelo do futebol e açambarca ilegitimamente fortunas extraordinárias no bolso. Polícia é pra quem faz tráfico de influências, troca de favores e lobbys fraudulentos com autoridades constituídas pelo poder popular, e também pra estas autoridades quando aceitam, permitem ou usufruem de tão maléficas práticas. Polícia é pra quem aliena a troco de banana os recursos minerais da nação brasileira. Polícia é pra quem praticou a privataria das estatais e as substituiu incontinente por oligopólios e/ou monopólios privados. Polícia é pra quem recebe concessões públicas e praticamente não devolve nada de benefícios a favor do poder concedente que é o povo. Polícia é pra quem tortura, pra quem violenta, estupra, rouba, assalta ou mata. Polícia é pra quem não respeita os direitos humanos. Polícia é pra guabiru político, pra bandido, pra gente perversa, não pra gente honesta. Polícia é pros que travam a saúde e desprezam a educação do povo. Pois que, com um povo sadio e educado, Polícia respeitada faria o verdadeiro e importante papel de uma verdadeira Polícia, que não é o de amedrontar ou bater em professor reclamando salário.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Parnahyba - Piauhy

                                                                                  (Pra minha mãe Aldenora)
 Tonho foi tentar a vida 
Na villa da Parnahyba
Mandou carta pra sua mãe:
Mamãezinha, Parnahyba
É monarca de bem grande.
Manhãzinha é um alvoroço
Inté hora do almoço
É gente caçando ganho.

Mamãe, as coisa aqui
São muito bem deferente
E adeversa daí
Fico besta do vivente
Trepado num tal sobrado,
Vê morada de xexéu.
O mar, eita açude grande!
Empareda lá no céu.

A igreja me dá sobroço,
O sino toca cantiga,
Cabe nela tanto povo
Pra mais de cem desobriga
De padre jogando laço
Do Belmonte inté Socó
E ainda adequere espaço
Pra despotismo maior.

E lá  na beira do rio
Tem gente que nem formiga
Rodeando briba morta.
As casas  têm tanta porta
Que mais parece o mercado
Donde se vende fiado
Passadio do mais bom,
Pro tenente e pro soldado.

Quebra o dia e pro café
Como manteiga do reino
Mais cuscús e jerimum.
Na Tutóia fui a bordo
De um vapor inguilês
Gente branca rosalgã
Titela de jaçanã
Do oi azul, couro vermei.

Inguilês fala esquisito
É periquito de ruma
Em roça de milho novo.
E é glória daqui do povo
Que os piloto da estória
Dão casimira bonita
Pra garrafa jeribita
Embarcado na Tutóia.

O navio é um pai dégua
Tem porão de botar carga
Que é tão fundo que escurece
Vista do cristão que espia.
Pro via do desassosego,
Urubu  novo no mar,
Foi o estômo vomitar
E eu perdi o meu emprego.

Nostro dia aliviado
Fui a um jogo de bilhar
É arredor de mesa verde
Que os jogador vão jogar.
Empurram ovo de ema
Dê por visto uns mexedor
Desmanchando no calor
Farinha de urupema.

Fui também a um cinema
Um pano bem esticado
E todim alumiado
Passando figura igual
De cristão a animal
Apregado numa fita
Vi  coisa da mais bonita
De parença natural.

Mamãe pra qu´eu conte tudo
Não hái papel que chegue
Dói a boneca do dedo
Que é mode meu pouco estudo
Mas antes que eu fique mudo
Vou lhe contar um segredo:
Comprei fazenda de chita
Mãe vai ficar mais bonita!


George Alberto de Aguiar Coelho


Escrito em 23.03.2008 depois que li "Parnaíba como é", do livro "Sertão Alegre", escrito por Leonardo Mota. Os versos foram feitos com base na carta de um jovem matuto pra sua mãe sobre Parnaiba que consta nas primeiras folhas do livro. Todos os méritos do texto pertencem ao grande Leota. Os defeitos sao meus. Leota nasceu na Pedra Branca no Ceará, em 1891. Foi contar suas estórias lá por riba em 1948. Ah! a Editora é a ABC.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Um alpendre, uma rede, um açude

(Fez-se filmes duns livros de Rachel de Queiroz.
Eu quis cantar em versos uma crônica da escritora de Quixadá.)
A cavaleiro do alto, a casa foi situada.
Um alpendre de três metros, uma rede atravessada.
Logo depois vem a sala, de tijolo ladrilhada,
Tamborete, mesa e pano, bico de renda trançada.
Na camarinha um baú, mais outra rede armada,
Pra vivente se encolher, nos frios da madrugada.

O corredor e a cozinha, fogão de barro no canto,
Calendário na parede, mais uma estátua de santo.
Um pilão de aroeira, pouco ou nada desgastado,
Dois potes na cantareira, cor de barro avermelhado.
Correnteza de vento, um caneco floreado,
Atrás dum pote uma rã, coaxando no aguado.

A mão direita da casa, sobra uma garra de chão,
Pruns quatro pés de milho, entre as filas de feijão.
Dúzia de bode e ovelha, chiqueiro da criação.
Uma vaca dando leite, ordenha, cuia na mão.
Perto um açude fundo, pra apanhar água em cabaça,
Se banhar vendo marreca e grito de mergulhão.

Só dois anzóis pra pescar. O graúdo é pra traíra.
O miúdo é pro cará. Pra tirar muçum da loca,
E o mais que for pegar, serve isca de minhoca,
Que, na revência do açude, de enxada se escavar.
Nada de colheita rica, nem alambique de cobre,
Nem engenho de cana, nem curral de gado nobre.

O de comer na panela. Pouca coisa mata a fome,
Que quando o corpo dá pouco, muito pouco come o homem.
Força grande é pro roçado. Cercar com ramo espinhento,
De sabiá já sem folha, quando o mato tá cinzento.
Esperar primeiras águas. Abrir as covas, plantar.
Duas limpas de enxada. E o legume apanhar.

Só paz, silêncio e preguiça. O ar fino da manhã.
Dia inteiro sem pressa. Café quente da cunhã.
Um conhecido que chega. Vai contando novidade.
Bebe um caneco d´água. Sai andando pra cidade.
O terreno é só batido. O mato cresce sozinho.
Deus nasce ele em janeiro. Em julho, já tá sequinho.

Vai-se indo o dia inteiro, sem compromisso nem pressa
E de noite o candeeiro põe luz trêmula na conversa.
Se fala então do roçado, que cada qual tem um plano,
De marca de ferrar gado, de acampamento cigano,
Das sementes que se dão, melhor que outras no solo.
E a rede no alpendre, balança a gente no colo.

Se chover o açude sangra, capote tira ninhada,
Sobe o peixe o sangradouro, tem leite, queijo e coalhada,
Mofumbo se abre em flor, rebenta verde a babuge.
Em junho se quebra o milho, cheira o aguapé do açude,
Flora amarelo o pau d´arco, cheiro doce de mimosa.
Agosto seca a caatinga, paz do sertão gloriosa.

O céu é um todo azul. A terra fica cinzenta.
Gado vem beber nas horas. E a água fica barrenta.
Pasta o seco capim e solta triste mugido.
E no alpendre da casa, uma rede de vigília,
Em balanço sonolento. O alpendre é o abrigo.
A rede é o repouso. O açude é a garantia.

Muito embora aconteça que o verão passe janeiro,
Não se quebre o milho em junho. E só sobre o juazeiro,
Mandacaru pra dar rama, pro garrote e pra vaquinha.
Se não chover esse ano, se reza a Salve Rainha,
Pra que o chão não se acabe. Só do chão carece o homem.
Que no chão ele anda vivo. E é no chão que o verme o come.

George Alberto de Aguiar Coelho


Fonte: Um alpendre, uma rede, um açude. Rachel de Queiroz.
Cem crônicas escolhidas. O caçador de tatu. 
José Olimpio Editora. RJ, 1989, p. 51 a 53.